domingo, maio 18, 2014

Notas de bolso, caderno azul: os anos

Sabe-se tanto e, ao mesmo tempo, não se sabe nada.
Como se ambas as realidades pudessem coexistir,
Sem que ninguém dissesse "sabe que mais, alguma coisa há de ceder".

Nessa realidade, onde ambas coexistem, ninguém diz nada.
Há uma ideia, ao longe, de erro. De problema.
Como uma caixa que se chuta para não se abrir já,
Mas que claramente não poderá ficar indefinidamente por abrir.

Contudo, porém, a ordem do dia é chutar,
Para a frente e com força, não vá a realidade mudar, por si,
E o indefinido passar a eterno, sem o problema da desilusão.

Sabemos todos que assim não acontecerá,
E ao mesmo tempo não sabemos nada e chutamos.
Ninguém diz nada.
Alguma coisa há de ceder.

segunda-feira, março 17, 2014

Notas de bolso, caderno azul: o tempo

Já afirmei várias vezes, afirmo-o hoje novamente, de que não tenho tempo. Talvez não tenha.
Talvez até saiba o que é o tempo, só assim faria sentido afirmar que não o tenho.

Não o tenho, foge-me entre os dedos como areia, vejo-o como vejo os grãos que fogem ao fechar da mão, mas porém não o sinto.
Sei apenas que o não tenho, como certeza inata transformada em base de construção, a partir da qual se de delineia um plano, um conjunto de acções organizadas, uma contingência, um futuro.

Mas os meus planos envolvem tempo. Tudo se faz com o tempo que não tenho.
Soubesse eu o que é o tempo.
Soubesse eu se o tenho ou não, acelerar, abrandar, marcar passo. Correr.

Traço a régua e esquadro a próxima jogada, perícia quase militar,
Linha digna de cartografia, furtiva.
Porque não tenho tempo.

"As maneiras de conjurar o destino são muitas e quase todas vãs,
E esta, ter-se obrigado a pensar o pior confiando que viesse a suceder o melhor,
Sendo das mais vulgares, poderia ser uma tentativa merecedora de consideração,
Mas não irá dar resultado no caso presente".

Arriscar por segundos, um sorriso numa vida.

Vamos correr. Eu vou correr. Com calma.
Vou traçar a rota, a minha melhor aposta, e havemos de nos rir depois. Quando não tivermos tempo.
Lembrar de quando o tínhamos e o perdíamos a traçar rotas. As nossas melhores rotas.

Demasiada inconsistência.
E, ao longe, tu.

domingo, março 16, 2014

Notas de bolso, caderno azul: o fim

Pensei bem.
Hoje não. Talvez nunca.
Mas nunca também não diria.
O nunca é demasiado extenso.
O nunca é como um poço sem fundo, onde caímos com esperança de bater no fundo.
Nunca batemos.
Temos demasiado pouco tempo para palavras como "nunca".
Tudo é demasiado complexo para palavras como "nunca".
O meu "nunca" é um talvez.
O meu "nunca" tem data.
Um dia.
O meu "nunca" não é um poço sem fundo.
O meu "nunca" vai ter uma história, que poderei contar aos meus sem nunca dizer "nunca",
Nem tal faria sentido, um "nunca" que aconteceu.

E o que será que aconteceu?
O que será que aconteceu no meu "nunca"?

Acho que não temos tempo para isto.
Fique anotado que afirmei, veemente, que acho que não temos tempo suficiente para isto.
E vejamos como desperdiço esse tempo em não fazer nada de concreto,
Concordando e corroborando ao mesmo tempo a anterior oração, a tal do não temos tempo,
Sendo que cada vez teremos menos.
E menos.
E menos.
E menos.

Talvez, no fim, o sol.